No entanto, a maior vitória para ele não foi ter conquistado o título e sim reconhecer o valor do esporte na vida das pessoas com deficiência. No PARAJASC, pessoas com “limitações” físicas, intelectuais, visuais e auditivas disputam várias modalidades adaptadas ao esporte convencional. Com isso vencem limites, incluem-se na sociedade, fazem amizades e, principalmente, encontram um novo objetivo a suas vidas.
Segundo o Profº Daniel, os torneios são oportunidades em que “conhecemos pessoas com todo o tipo de ‘limitação’, pessoas sem um ou ambos os braços, pernas ou pessoas que os têm, porém não conseguem movê-los intencionalmente, pessoas sem ou com pouquíssima visão, audição e pessoas com deficiências intelectuais. A princípio, os considerados ‘normais’ os tratam como coitados, querendo ajudá-los em todas as situações possíveis… Porém se deparam com a realidade: eles não querem ajuda, eles não precisam de ajuda, são capazes de fazer tudo sozinhos, pois aprenderam adaptar-se à nova realidade. Por outro lado, não se fazem de coitados. Quando realmente precisam de ajuda, pedem para qualquer pessoa que acha capaz de o ajudar, sem vergonha”.
Em seu testemunho, Daniel descreve que “os deficientes visuais são exemplos de trabalho em equipe. Andam sempre juntos, um segurando no ombro do outro e guiados por uma pessoa com visão a frente da ‘fila’. Além disto, reconhecem pessoas, coisas, ambientes apenas pelo cheiro, calor e pela interpretação de sons emitidos pelas pessoas ao seu redor. Os auditivos, por incrível que pareça, são os mais faladores de todos. Passam o tempo todo se comunicando com gestos, demonstrando alegria ou tristeza. E os deficientes intelectuais vivem numa linha tênue sentimental; vão do mais alegre possível ao mais triste ou bravo, de acordo com o que vivem. De uma forma geral são aquilo que todos nós somos sem ter vergonha de demonstrar: ‘carentes’. E, por isso, quando ganham uma medalha, um jogo, vão ao êxtase de tanto carinho que recebem”.
Para o técnico campeão da modalidade, o que mais lhe chamou a atenção e lhe fez rever seus conceitos e suas ações, toda vez que enfrentava uma situação contrária, são os atletas com “paralisia cerebral”. Está entre aspas, porque alguns destes atletas, ao nascerem, foram diagnosticados como incapazes de reagir a estímulos, expressar sentimentos e mover-se intencionalmente. Resumindo, não conseguiam responder a nenhuma situação que a vida lhe proporcionava. Porém, com o esporte, com a prática desportiva, com a convivência com um professor, com um educador físico, conseguiram desenvolver conceitos, dar respostas, iniciar movimentos voluntários e se inserirem na sociedade.
À comunidade do Colégio São José, o professor Daniel dirige a seguinte mensagem: “transmito estas palavras para que saibamos que não devemos reclamar de nada que a vida nos proporciona. São vários os ditados e frases de pessoas que hoje nos servem de referência e que podem resumir o que sentimos ao conviver com os deficientes. Cito: ‘Deus dá o frio conforme o cobertor’, ‘não receberemos nada nesta vida que não sejamos capazes de conviver’. Outra é de Santa Paulina: ‘Nunca, jamais desanimeis embora venham ventos contrários’. Depois de vivenciar estas situações, com pessoas tendo dificuldades para fazer o básico da vida – locomover, alimentar, higienizar, descansar –, vemos o quanto Deus nos deu para ultrapassar qualquer obstáculo que a vida nos proporciona”.
Professor Daniel, em nome da comunidade Educativa do Colégio São José, reiteramos nosso apreço, estima, carinho e homenagem ao belíssimo trabalho que tem realizado à frente da equipe de Handebol em Cadeira de Rodas. Parabéns pelas conquistas em 2013!
Por Altair Antonio Claro, Vice-Diretor.